Onde adquirir as minhas garrafas?

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Em complemento ao artigo escrito anteriormente: Como valorizar o que está no nosso copo? Tiago Simões aprofunda o assunto e ajuda-nos a ser consumidores mais inteligentes:


Hoje em dia existem imensas opções para o enófilo satisfazer a sua procura por uma boa garrafa de vinho. Uma vez que os gostos, necessidades, e prioridades de cada um de nós podem divergir ou convergir nas mais diversas combinações possíveis eu gostaria de aqui referenciar os principais meios aonde podemos adquirir vinho nos dias de hoje, bem como as vantagens e desvantagens inerentes a cada um deles.

Grandes Superfícies Comerciais

Desdenhadas ainda por alguns enófilos as grandes superfícies comerciais (supermercados, hipermercados, etc...) estão cada vez mais a responder à crescente procura de produtos enológicos corrigindo (ainda que muito lentamente) alguns dos seus erros passados. São estes erros a falta de diversidade nos produtos disponibilizados, o armazenamento deficiente desses mesmos produtos e a indisponibilidade de assistência qualificada no ato de compra dos seus clientes. Não que estes problemas sejam exclusivos deste tipo de estabelecimentos, mas a verdade é que são muito prevalentes neles. Outra problemática bastante prevalente são as promoções ilusórias e sistemáticas, que levam o consumidor menos informado a pensar, erradamente, que está a aproveitar uma excelente oportunidade para encher a sua garrafeira com vinhos de gama alta a preços imperdíveis. O que muitos enófilos desconhecem é que grande parte dos vinhos que encontramos nestas superfícies são produzidos em regime de exclusividade para as mesmas, quer por produtores individuais quer por grandes cooperativas. Isto permite que sejam propositadamente publicitados a preços elevados enganosos, apenas para serem vendidos a posteriori com descontos pornográficos. O problema não está na qualidade inerente a esses vinhos. São quase sempre feitos num estilo comercial e excessivamente domado sim, mas são também destinados a um tipo de consumidor que valoriza não tanto a variedade, mas principalmente a consistência. A deceção está na forma como muitos amantes de vinho incautos são coagidos a adquiri-los. As promoções que devemos ter em conta são as que oferecem descontos mais comedidos, mas também mais abrangentes. Ter 15 ou 20% de desconto num vinho de marca não exclusiva é quase sempre mais vantajoso do que ter 70% de desconto num vinho cujo preço base não passa de uma ferramenta de marketing para influenciar a nossa perceção de qualidade. Apesar das desvantagens enumeradas neste parágrafo acredito que as grandes superfícies comerciais podem constituir um bom espaço de compra para um enófilo mais experiente e alertado para as suas armadilhas, até porque devido à sua distribuição generalizada e horários alargados são muitas vezes a opção mais imediata e acessível a muitos de nós. 

Garrafeiras Físicas

Não obstante a competição severa por parte de superfícies comerciais maiores e mais generalistas há uma crescente procura deste tipo de lojas por parte do público. Tal procura deve-se em grande parte à oferta de produtos mais diferenciados existente neste tipo de estabelecimentos e ao auxílio (ainda que algumas vezes pouco informado) à seleção desses produtos. Claro que juntando todas as garrafeiras num mesmo grupo corremos o risco de fazer generalizações, positivas ou negativas, falsas. Não há forma de indicar uma garrafeira que agrade a todos pois tal como referi na introdução todos temos prioridades diferentes. Visite as diferentes garrafeiras acessíveis a si, recompense as que lhe proporcionaram uma boa experiência/compra com visitas repetidas e "castigue" as que sente não terem um serviço adequado deixando de comprar os seus vinhos nelas. Sou um crente nas leis do mercado e portanto penso que só nós, enquanto consumidores, podemos impulsionar um aumento na qualidade de um determinado setor, votando com os nossos euros.  


Garrafeiras Online

Não tanto uma categoria mas mais uma subcategoria nesta temática, pois hoje em dia muitos negócios possuem uma vertente de venda online de modo a complementar a faturação nos seus espaços físicos. Porém já existem empresas a trabalhar exclusivamente online, especializando-se nesse segmento. A propagação exponencial deste tipo de oferta não é apenas uma moda recente, despoletada pelos tempos em que vivemos. É sim uma tendência, que chegou para ficar. Sobre vantagens e desvantagens há muitos pontos em comum entre as garrafeiras físicas e as online. Talvez a maior vantagem das segundas seja a acessibilidade que nos facultam. No mundo da Internet tudo está à distância de um clique e se usarmos esse poder para ler opiniões, comparar preços e descobrir novos vinhos estamos a meio caminho para fazer aquisições bastante proveitosas.  Em sentido contrário tenho que referir que o mundo das compras online está cheio de deceções e não é por acaso que as queixas referentes a estas transações dispararam recentemente. Quando não compramos algo in situ estamos a colocar uma pressão acrescida sobre quem nos está a prestar um serviço e infelizmente nem todas as empresas demonstram estar à altura dessa responsabilidade. Produtos mal acondicionados ou em mau estado, prazos de entrega não cumpridos, assistência a pedidos de reclamação deficiente, a lista de frustrações é longa. Tal como em todos os outros casos enquanto consumidores temos que fazer valer os nossos direitos e dessa forma contribuir para que estes cenários se tornem, cada vez mais, raras exceções. 


Diretamente aos produtores

Talvez uma possibilidade que não cruza a mente de muitos enófilos quando pensam em adquirir garrafas, mas uma opção cada vez mais disponibilizada e que pode trazer vantagens substanciais. Vendendo diretamente o fruto do seu trabalho os produtores estão, simultaneamente, mais cientes que a sua reputação está em jogo cada vez que alguém lhes solicita uma garrafa e a par das necessidades do público a quem o seu produto se destina. Isto teoricamente claro. Muitos oferecem, ainda, preços bastante competitivos e um valor pedagógico acrescido e complementar que poderá ser bastante apreciado. Para além disso há, quanto a mim, o mérito adicional de estarmos a apoiar diretamente o provedor de um bem que apreciamos cortando nos intermediários periféricos. A única cautela que deixo relativamente a este tipo de compra é que produzir bons vinhos e prestar um bom serviço de venda são duas virtudes que podem não estar sempre de mãos dadas e que temos que ter isso em conta. 


Em Leilões ou a Particulares

Em primeiro lugar devo confessar que devido a algumas más experiências este é um meio de obtenção de vinhos que não desperta em mim nenhum apreço em particular. Em cada compra ou prestação de serviço há uma série de mecanismos legais que garantem uma transação limpa e justa para ambas as partes e, especialmente no que toca à compra de vinhos a particulares, esses mecanismos não estão suficientemente bem regulados ou fiscalizados. Dito isto e, reforçando que este não é de todo um meio de aquisição recomendado a compradores mais cândidos, posso admitir que é extremamente aliciante e talvez seja isso que o torna tão atrativo. Podermos descobrir verdadeiros tesouros vínicos como se fossemos um Indiana Jones da enofilia tem um encanto transcendente. Apenas nos temos que acautelar para que o encanto não nos embale a racionalidade. 



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