Como valorizar o que está no nosso copo?

 Inúmeros enófilos se sentem privados daquele que pensam ser o "Mundo dos Grandes Vinhos" pois o seu orçamento não lhes permite ter acesso a vinhos de um certo patamar de preço. Tal noção advém do facto de a maior parte de nós associarmos, de forma indisputável, a alta qualidade do que bebemos com o custo elevado que pagamos quando adquirimos a nossa garrafa de vinho. Neste artigo irei enumerar alguns dos fatores que realmente afetam a qualidade daquilo que bebemos e dar ao leitor a perceção que para desfrutar de um vinho de excelência não é, de todo, necessário gastar valores incomportáveis para o comum dos mortais. Cada um dos seguintes tópicos merecerá uma exposição mais alargada no seu devido tempo. 

Quando se trata de arranjar o melhor vinho ao preço mais baixo há uma arma que qualquer enófilo deve ter no seu arsenal: Conhecimento. No mercado nacional existem inúmeros vinhos de excelente qualidade por valores inferiores a 10 euros a garrafa, seja qual for o seu estilo de vinho predileto. E muitos deles feitos por pequenos produtores que, por não terem o peso de uma grande marca a influenciar a procura pelo seu produto são forçados a colocar no mercado verdadeiros tesouros enológicos a preços acessíveis a qualquer consumidor. Onde encontrar esses tesouros? Hoje em dias as opções são tão vastas que o problema prende-se precisamente com a quantidade de informação que chega até nós e como filtrá-la. Leia um livro e/ou revista da especialidade. Procure um blog ou um site online que fale deste tópico específico. Ou se ainda é novo neste maravilhoso mundo do vinho e não se sente confiante para fazer esse tipo de investigação sozinho encontre alguém de confiança que o possa guiar, seja um profissional da área ou um amigo enófilo mais experiente. Se apostar em ganhar mais conhecimento, para realizar compras mais proveitosas, verá rapidamente que todo o investimento que fez será recompensado com juros. 

Apesar de grande parte dos bons vinhos do mundo serem já bastante agradáveis por si só quase todos beneficiam quando têm boa companhia à mesa. Um vinho mediano pode transformar-se num grande vinho devido à sua sinergia com um acompanhamento adequado. Qual é o acompanhamento mais adequado ao vinho que você prefere beber? Para esta pergunta só há uma resposta verdadeira: o acompanhamento que mais prazer lhe dá. O difícil (mas também o interessante) está em descobrir esses pares de vinho e comida que realmente lhe enchem as medidas. Haverá sempre atalhos nessa busca o que me leva novamente para o primeiro tópico mas o que é certo é que todos gostamos de coisas diferentes, e talvez mais do que qualquer outra aprendizagem esta tem tendência a ser muito de tentativa e erro. 

3) Sirva o seu vinho de forma adequada

As técnicas de serviço de vinho servem precisamente para que o mesmo chegue ao nosso palato nas melhores condições possíveis para ser apreciado. E quando não estão reunidas as condições de serviço adequadas corremos o risco não só de não potenciar o valor do que estamos a beber ao máximo como inclusive de o sabotar. Regularmente muito daquilo que nos impede de considerar um vinho como excelente está não no valor do produto em si mas na forma defeituosa como o servimos. Um vinho que nos parece demasiado alcoólico por vezes precisa apenas de uma ligeira refrigeração, um vinho que ao primeiro contacto não mostra muito a nível aromático poderá estar a precisar de empurrão dado pela oxigenação e a lista de problemas, e suas soluções, é interminável. Quer beber um bom vinho? Procure como servi-lo em boas condições. 

4) Dê tempo às suas garrafas

Apesar de hoje em dia praticamente todos os vinhos estarem prontos para serem consumidos quando chegam ao consumidor final e de a capacidade de envelhecimento de um vinho em garrafa estar muitas vezes mistificada por opiniões desinformadas há muitos vinhos que, devido à pressão da procura do mercado e/ou devido à falta de recursos financeiros do produtor, são lançados quando ainda não atingiram todo o seu potencial. Quando nos deparamos com esse tipo de preocupações deparamo-nos também com uns euros extra no preço final o que apesar de ser justificável muitas vezes torna o produto inalcançável a orçamentos mais curtos. A solução passa por sermos nós a tratar desse cuidado extra. Mesmo vinhos de um patamar de custo mais baixo podem ganhar substancialmente quando armazenados em condições adequadas durante alguns anos. Para além dessas condições temos ainda que ter em conta que alguns vinhos, devido ao seu método de elaboração ou finalidade, não serão investimentos adequados para guardar. E por muito que certas pessoas queiram impingir que um vinho velho será sempre melhor que um vinho novo cabe-nos apenas a nós enquanto enófilos descobrir se o nosso gosto pessoal valoriza o tipo de mudanças que ocorrem com a alteração de um vinho ao longo do tempo. Mas se estivermos dispostos a esperar, a experimentar e se não tivermos ilusões irrealistas de "transformar uma garrafa de 3 euros numa de 300 euros" acredito que manter algumas rolhas fechadas durante mais algum tempo pode conduzir a surpresas bastante agradáveis. 

Talvez o fator mais subvalorizado na apreciação de um bom vinho sejam as pessoas que estão presentes quando abrimos uma garrafa. Não escrevo isto para dizer que os bons vinhos deixam de o ser por estarmos a disfrutar deles sozinhos, mas sim para afirmar, sem a menor sombra de dúvida, que os bons vinhos se tornam excelentes vinhos quando os bebemos com alguém especial por perto. É devido precisamente a essa realização que por vezes necessito de provar sozinho quando quero que a prova seja o mais objetiva possível. Mas na vida nem sempre o que é mais objetivo é mais prazeroso. Se tem uma ou mais pessoas na sua vida que, por qualquer razão que seja, o consigam fazer acreditar que naquele momento está a beber um grande vinho, utilize isso a seu favor. Porque a companhia muitas vezes faz o momento, e o momento muitas vezes faz o vinho.