Portugal Monovarietal (Brancos)
10:27:00
Castas brancas, com mais relevância a nível nacional, características e como se comportam nas regiões, por Tiago Simões:
"O calor chegou! Com ele a vontade de consumir pratos de natureza mais leve e de desfrutar de uma bebida fresca ao ar livre e em boa companhia. Nunca fui apologista de segregar os diferentes tipos de vinho por estações, mas a verdade é que quando os dias (e noites) aquecem um bom vinho branco à temperatura adequada e com acidez refrescante é o nosso melhor companheiro. Neste espírito apresento cinco vinhos comercializados até 10 euros, fáceis de encontrar e que representam com brio as cinco diferentes castas e regiões que os originam. Para converter até o senhor "Eu só bebo tinto." ao fantástico universo dos vinhos brancos portugueses.
Casta: Alvarinho
Principal Região: Vinhos Verdes
A região de Vinhos Verdes têm muitas castas brancas com capacidade para produzir brancos de qualidade. Uma vez que escolhi restringir a minha escolha a uma é óbvio que a opção cairia para a rainha das castas brancas ibéricas. A Alvarinho é daquelas uvas que parecem ter qualidades sem fim. Frescura, equilíbrio, complexidade e capacidade de evolução em garrafa são apenas algumas dessas qualidades. Hoje em dia há inúmeros bons vinhos feitos de norte a sul de Portugal que expressam o imenso potencial desta casta, que vão desde vinhos de estilo mais subtil, mineral e cítrico a autênticos "monstros" capazes de colocar muitos tintos a um canto no que toca a estrutura. Cada vez mais também está a ser usada na elaboração de grandes espumantes.
Sugestão: Soalheiro Alvarinho. Um excelente cartão de visita para descobrir a casta e um dos melhores produtores da mesma no nosso país. Expressão aromática sempre focada com notas de Toranja e algum floral nos bastidores. Marisco e peixe grelhado são companhias acertadas.
Casta: Moscatel Galego
Principal Região: Douro
Ainda primariamente usada para produzir vinhos doces fortificados a casta tem vindo a conquistar o seu espaço na produção de vinhos de mesa. No Douro requer altitudes elevadas e bom senso com a seleção do momento de vindima para mitigar a sua relativa falta de acidez. Vinhos sempre muito marcados no aroma e para consumir nos primeiros anos após o seu lançamento.
Sugestão: Pomares Moscatel Galego. O carisma deste vinho irá surpreender quem afirma que todos os vinhos brancos cheiram ao mesmo. Os aromas exóticos a lichias e a rosas permitem-nos arriscar um sublime conjunto com comida asiática carregada de especiarias mas quem quiser apenas bebe-lo a solo num momento de descontração não irá ficar desiludido.
Casta: Encruzado
Principal Região: Dão
Quando uma das melhores castas portuguesas é produzida num dos melhores terroirs que temos o resultado dificilmente sai mau. É esta a parceria de ouro que o Encruzado tem com os solos ricos em granito e amplitudes térmicas controladas próprias da região do Dão. Com madeira ou sem madeira de carvalho à mistura é capaz de originar vinhos com uma finesse e mineralidade impossíveis de duplicar.
Sugestão: Casa da Passarella O Enólogo. Equilíbrio é a palavra que me vem sempre à cabeça para descrever aquele que é sem dúvida um dos melhores brancos de Portugal na sua categoria de preço. Acidez no ponto a acompanhar as notas de fruta de caroço e barrica subtil. A versatilidade gastronómica torna difícil pensar num mau emparelhamento mas nesta altura do ano uma salada de frango será uma boa sugestão.
Casta: Arinto
Principal Região: Lisboa (Bucelas)
Sendo Bucelas a única Denominação de Origem Controlada nacional usada exclusivamente para vinho de mesa branco não é de estranhar que seja uma paragem obrigatória quando se escreve sobre o tópico deste artigo. A uva Arinto é plantada um pouco por todo o lado e vinificada tanto sozinha como acompanhada pois possuí uma característica essencial num país de clima quente como o nosso. Dá constantemente vinhos com uma boa acidez. E é em Bucelas, desenvolvida num clima de influência marítima e num solo de origem calcária que mais vezes tem a sua melhor expressão.
Sugestão: Morgado de Sta Catherina. Talvez não seja o Bucelas branco mais típico mas é certamente aquele que mais consistência apresenta na qualidade e no perfil de ano para ano. As notas limonadas e a acidez marcante próprias do Arinto estão presentes mas também há um lado mais maduro e guloso neste vinho, potenciado por um uso de madeira com critério e um volume de boca impressionante. Todos os peixes gordos quer na grelha quer no forno irão fazer este vinho sobressair à mesa.
Casta: Antão Vaz
Principal Região: Alentejo
Presente em muitos brancos alentejanos e senhora na sub região da Vidigueira a casta Antão Vaz pode não ter a frescura, a complexidade, a unicidade ou o potencial de envelhecimento das restantes castas aqui descritas. A acidez muitas vezes moderada e os compostos aromáticos primários pouco longevos fazem com que tenha de ser quase sempre loteada com outras castas de modo a produzir vinhos de elite. No entanto se não lhe pedirmos para "ser o que não é" não há razão para não apreciarmos as suas virtudes. Indicada para amantes de brancos despretensiosos com um toque de tropicalidade e (quando feitos por quem sabe) mineralidade capaz de elevar a sua flacidez de palato.
Sugestão: Herdade do Sobroso Barrique Select. Um Antão Vaz elegante que apesar de ter uma textura cremosa e aromas que saltam do copo convida sempre a mais um golo sem nos fatigar. Ananás maduro e flor de sabugueiro são as memórias que invoca. Têm estrutura para aguentar pratos complexos mas também se sentirá à vontade com uma tábua de queijos variados.
Estes parágrafos são apenas uma pequena introdução à imensa variedade de bons brancos que podemos apreciar nesta ou em qualquer altura do ano. Peço a quem os leu que rompa (se já não o fez) com o infeliz hábito ainda algo disseminado de tratar o vinho branco como vinho de segunda categoria não merecedor da mesma consideração dada ao vinho tinto. Há muitos produtores, em Portugal e pelo mundo fora, a provar que é possível fazer vinhos inesquecíveis usando uvas brancas. "
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