Premium, Seleção do Enólogo, Colheita seleccionada, Superior...
02:31:00
Tiago Simões volta a escrever uma pequena rubrica, na qual esclarece alguns factores que muitas vezes tomamos como garantia de qualidade e muitas vezes não passa de uma descrição por parte do produtor.
Na constante glamorização que fazemos do vinho e de tudo o que o rodeia muitas vezes esquecemos que o mesmo é um produto. E tal como em qualquer produto existem diferentes ferramentas de marketing nele aplicadas.
No caso especifico do vinho uma das ferramentas mais óbvias é o rótulo (e contra rótulo). Nele podemos encontrar diversas informações, de natureza obrigatória ou facultativa, que nos ajudam a tomar a decisão sobre a sua compra. Hoje quero debruçar-me sobre um desses tipos de informação que muitas vezes pode causar maior confusão no consumidor: referências complementares.
Quando nos deslocamos ao nosso destino de eleição para adquirir garrafas de vinho, seja esse destino físico (supermercados, garrafeiras, etc...) ou cada vez mais nos tempos que correm virtual, somos assaltados por uma panóplia de termos impressos nos rótulos das garrafas que temos diante dos nossos olhos. Colheita Selecionada, Reserva, Grande Reserva, Garrafeira, Super Reserva, Premium, Seleção do Enólogo, Seleção dos Sócios, Superior ou Grande Escolha. Isto só para referir alguns. Mas o que é que esta compilação de termos nos diz sobre o que está realmente dentro de cada garrafa? Serão indicativos fidedignos de qualidade? Devo responder que infelizmente a maior parte não são, ou melhor, puderão ser ou não dependendo apenas da boa vontade de quem os escolheu colocar naquele rótulo em particular. Isto porque a grande maioria tem pouco ou nenhum fundamento qualitativo legal como suporte e está ao dispor da empresa produtora para ser usado como um veículo de marketing. Designações como Premium ou Seleção do Enólogo são apenas isso, palavras usadas para criar no consumidor uma falsa sensação de segurança sobre a qualidade do produto que está a adquirir. Eu não estou em posição de chamar charlatão a ninguém e este artigo não pretende ser um "apontar de dedo", apenas refiro que se segue este tipo de menções está simplesmente a confiar na boa palavra de alguém e o faz por sua conta e risco.
Há realmente alguns termos que estão dependentes da pré-aprovação de um elemento (em princípio) imparcial e que servem para de certa forma estabelecer uma distinção entre os diversos patamares de qualidade disponíveis. Aqui o problema é outro. Serão os critérios suficientemente específicos e redutores para nos dar a nós consumidores uma ideia do que vamos encontrar quando abrirmos uma garrafa? Para que possa responder a si mesmo peço-lhe que vá contar a quantidade de "Reservas" que vê numa prateleira de supermercado, alguns com preços bastante convidativos, e depois veja quantas marcas de grandes vinhos topos de gama existem sem qualquer menção a estes termos no seu rótulo. E como sempre digo a qualidade é algo subjectivo que atribuímos a algo. Acho que o palavreado mencionado pode dar-nos algumas pistas sobre o estilo de vinho que estamos a comprar mas até seguindo essas pistas poderemos estar a entrar em generalizações descuidadas. "Nos Reservas eu sinto sempre mais notas de madeira.", "Vou gostar mais deste vinho do que o de entrada de gama porque este diz Grande Escolha.", "Um Grande Reserva a 6€? Que sorte."...
Em tudo na vida temos que olhar para as coisas de forma racional e não deixar que nos toldem a visão. Siga o seu palato, não siga palavras bonitas.
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