A importância do copo

07:58:00

Sempre me questionei se seria placebo ou se realmente afetaria uma degustação. Ao longo do tempo apercebi-me que sim, o copo do vinho tem um enorme protagonismo na degustação dos vinhos. Na minha opinião, ninguém melhor que o Tiago Simões para desvendar este pairing físico e químico: 

"De todos os acessórios à disposição do enófilo moderno apenas um se mantém como o acessório essencial, o copo (quem gosta de beber vinho diretamente da garrafa que me perdoe). No entanto, face à sua necessidade universal, o tipo de copo indicado para desfrutarmos do nosso vinho é um assunto pouco discutido. A maior parte de nós começou a beber vinho em copos de vinho simplesmente porque nos foi incutido, expressamente ou implicitamente, que essa era a forma correta de o fazer. Hoje vou tentar explicar o porquê de utilizarmos copos específicos para esta bebida e discernir quais as melhores opções disponíveis. 

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O Copo de Vinho

Normalmente se uma determinada categoria de objetos partilha um específico conjunto de características é porque estas apresentam algum tipo de vantagem funcional. E as três características mais comuns a quase todos os tipos de copos de vinho são: transparência, ter um pé que nos permite segurar o copo sem tocar no corpo do mesmo e ter uma forma afunilada. A transparência serve uma funcionalidade bastante obvia não é verdade? Permite-nos apreciar visualmente o que temos dentro do copo. Quanto às outras duas características a sua explicação é um pouco mais complexa.

O Pé do Copo

Apesar de existirem à venda copos de vinho sem pé, esta expansão é muito prevalente. Poder segurar o copo pelo pé tem vantagens importantes. Em primeiro lugar permite que não sujemos o corpo do copo com dedadas que, para além de inestéticas, inibem-nos de visualizar o vinho de forma ideal. Depois impede que o vinho seja aquecido pelo calor das nossas mãos, o que é essencial para o manter na sua temperatura de serviço durante o maior tempo possível. Por fim tem outra vantagem não muito divulgada. As nossas mãos estão muitas vezes contaminadas com cheiros diversos (provenientes de comida, cremes, perfumes, etc...) que podem confundir a nossa prova. Ao afastar o copo da nossa mão o pé do mesmo anula, em grande extensão, este inconveniente. 




A forma afunilada

Ainda há quem utilize copos de vinho em que o diâmetro do rebordo é igual ao do corpo do copo, mas grande parte dos enófilos exige beber o seu vinho em copos afunilados em maior em menor extensão. O rebordo mais estreito permite rodar o vinho no copo, sem o entornar, com mais segurança, o que ajuda no ato da sua degustação. Mas talvez a consequência mais marcante seja a capacidade que a forma afunilada dá ao copo em se tornar um amplificador de aromas, canalizando os mesmos para uma saída mais diminuta. "Isso quer dizer que quanto mais afunilado é o copo melhor?" Não necessariamente. Um copo excessivamente afunilado pode concentrar os aromas de tal forma que torna complicada a tarefa de os distinguir individualmente. Quando os aromas chegam até nós todos em simultâneo apenas os mais óbvios e prevalentes sobressaem. Tal efeito é especialmente negativo quando bebemos vinhos subtis e complexos, pois todas as pequenas nuances aromáticas ficam sem espaço para chegar à nossa perceção. Para este estilo de vinhos aconselho o chamado copo estilo Borgonha que tem uma abertura mais larga, possibilitando assim que os aromas mais tímidos tenham a sua oportunidade para brilhar. 

direitos imagem: Grand cru Blog


E as Flutes?

Talvez o dilema que gera mais discórdia na comunidade enófila quando se fala de copos seja a utilização (ou não) de flutes para beber vinhos espumantes. Ao ter uma capacidade volumétrica menor e uma largura muito pequena este tipo de copo ajuda a preservar duas componentes nos vinhos espumantes: o seu conteúdo gasoso e a baixa temperatura a que são normalmente servidos. O problema é que a sua forma e dimensão tornam complicada a degustação de espumantes de boa qualidade, estrangulando os seus aromas. Pessoalmente encontrei aquele que julgo ser o compromisso perfeito, bebendo os meus espumantes num copo de vinho de forma regular mas de dimensões ligeiramente menores. Assim o espumante tem extensão de copo suficiente para dar uma boa prova, mas consegue manter a temperatura e a bolha desejáveis durante o tempo necessário para ser consumido. As flutes ficam reservadas para ambientes festeiros em que, devido ao convívio, tenho tendência em deixar o espumante demasiado tempo no copo, prevenindo o risco de o encontrar já com pouco gás. 

Vinhos Fortificados (uma questão de doseamento)

Por terem um grau alcoólico superior, e muitas vezes alguma quantidade de açúcar residual, os vinhos fortificados têm uma dose de serviço standard inferior à de um vinho de mesa (150 ml para estes e apenas 90 ml para vinhos fortificados). Deste modo é normal serem servidos em copos de dimensão inferior. Porém, admitindo que estamos a beber o nosso fortificado no conforto da nossa casa e que não temos que ser rigorosos, eu advocaria que não há nada de errado em servir um vinho fortificado num copo de vinho de mesa, desde que a dose standard do mesmo seja minimamente respeitada.
O uso de um copo de dimensões normais poderá até ser uma vantagem em termos degustativos, uma vez que permite um maior volume para que o vinho fortificado abra os seus aromas. 

direitos imagem: O boletim do vinho


Tudo uma questão de gosto

Finalizadas as apresentações no que toca aos aspetos essenciais há que concluir este artigo referindo que existem uma enorme variedade de designs de copos de vinho que podemos valorizar por uma questão pessoal. Algumas pessoas valorizam um tipo de vidro ou cristal mais fino porque acreditam que para além de ser mais leve lhes dá um benefício qualitativo na prova, ao colocar menos material entre eles e o vinho (os estudos relativos a esta suposta diferença têm sido na maior parte das vezes inconclusivos). Outras preferem a aparente maior resistência e durabilidade de copos mais espessos (se bem que hoje em dia através de avançadas técnicas de produção conseguimos produzir copos simultaneamente muito finos e muito resistentes). 
Eu por exemplo tenho tendência a valorizar copos de grandes dimensões:
  • Em primeiro lugar porque ao ter mãos maiores que a maioria dos enófilos sinto que um copo maior é mais ergonómico para mim. 
  • Em segundo lugar porque ao lavar sempre os meus copos à mão o facto de ter um copo de grandes dimensões permite-me ter mais facilidade no seu polimento. 
  • E por último, os copos grandes trazem uma vantagem que pode ser importante para um número mais alargado de consumidores. Ao darem mais espaço ao vinho para oxigenar diminuem em grande parte a necessidade de sujar um decantador (a não ser que a ideia seja mesmo decantar o vinho e não oxigena-lo, mas vamos deixar essa conversa para um artigo futuro). 

Cada um de nós terá os seus argumentos para defender o seu "copo perfeito" pois tal conceito nunca passará disso, uma opinião pessoal. Beba o seu vinho nos copos da sua eleição sem se importar com as opiniões alheias e brinde aos bons momentos. Saúde!"

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